Com 1 milhão de km² e
abrangendo nove Estados, principal déficit da região
não é só de água, mas também de conhecimento, argumenta
especialista.
O potencial agrícola do semiárido brasileiro vem sendo
amplamente divulgado com o sucesso dos pólos de fruticultura
e olericultura, especialmente daqueles localizados ao longo
do rio São Francisco. Com água em abudância, propiciada pela
irrigação, a região se notabilizou por produzir mais e melhor,
a ponto de se tornar um dos principais exportadores de frutas
do País. Isso acabou reforçando a crença de que o principal
entrave para o desenvolvimento da região é o déficit hídrico.
No entanto, além de ampliar os atuais 6 mil km² de área irrigada – que representam
apenas 0,6% dos quase 1 milhão de km² do semiárido brasileiro –, o desenvolvimento
da região também dependerá da superação de um outro tipo de déficit: o do conhecimento.
“As características do semiárido brasileiro são completamente distintas de semiáridos
de outros países, e o domínio do conhecimento sobre a região é essencial para
se conseguir explorar de forma sustentável os seus recursos naturais”, afirma
o engenheiro agrônomo Manoel Abilio de Queiróz, professor da Universidade do
Estado da Bahia (UNEB), que falará sobre esse assunto durante a Reunião Regional
da SBPC em Mossoró (RN).
Promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC), o evento será realizado de 14 a 16 de abril próximo e tem
como objetivo discutir o desenvolvimento sustentável do semiárido brasileiro.
Na sua conferência, Queiróz mostrará que o Brasil pode não ter a vantagem de
outros países, como o Chile, por exemplo, que possui um clima semiárido parecido
com o da Califórnia e por isso pode aproveitar as técnicas existentes. Por outro
lado, as condições climáticas do semiárido brasileiro são melhores que as de
outras regiões do mundo.
“Aqui a média de chuva é maior, o que propicia uma vegetação mais densa e variada.
No entanto, ainda precisamos obter mais conhecimento para explorar as vantagens
que essa condição climática oferece” acrescenta ele, lembrando que as expectativas
são animadoras diante da interiorização que vem ocorrendo com universidades e
a consequente fixação de mais pesquisadores na região semiárida.
Há mais de
35 anos trabalhando no semiárido como pesquisador, Queiróz se tornou um especialista
no assunto. Conhece de perto várias regiões semiáridas da América do Norte, América
do Sul, Ásia e África. Ele já trabalhou como pesquisador por dois anos na Índia,
onde a irrigação beira os 40 milhões de hectares. Em todas as regiões semiáridas
que visitou, pode constatar que o déficit hídrico não é a causa determinante
de seu subdesenvolvimento.
“O estado do Arizona, nos EUA, com cerca de 300 mil km² de
território e clima predominantemente árido e semiárido, possui uma área irrigada
de 10 mil km² (3,33%) – um pouco maior que a do semiárido brasileiro. No entanto,
a renda per capita lá é de 27 mil dólares, enquanto o Índice de Desenvolvimento
Humano do semiárido brasileiro é um dos mais baixos do País”, ressalta Queiroz,
acrescentando que a diferença fundamental, neste caso, é forma com que os recursos
naturais são explorados e a economia é estruturada.
Na sua avaliação, para que o semiárido brasileiro tenha seu potencial agrícola
explorado plenamente e de forma sustentável, é necessário também haver uma mudança
do enfoque político para a região. “Menos medidas paliativas, como as Frentes
de Emergências e os carros-pipa, e mais ações estruturadoras que possibilitem
o aproveitamento sustentável dos recursos naturais da região”, finaliza ele
Serviço
– A conferência “Semiárido e alternativas de desenvolvimento”
será proferida pelo prof. Manoel Abilio Queiróz, no dia 15 de abril, das 10h30
às 12h00, na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Veja a programação
do evento no site http://www.sbpcnet.org.br/mossoro/home/.
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